Juventude e futuros: Qual é a preocupação e como está sendo solucionada? 

Quem nunca ouviu que os jovens são o futuro da nação? É uma fala muito comum, mas será que, ao fazer essa afirmação estamos pensando em quais são as possibilidades de futuro e se estamos preparando a juventude para eles?  Primeiro é importante entender quem compõem a juventude, quais lugares ocupam e como se percebem (ou são percebidos) na sociedade.  

A juventude é definida em três etapas: 1) jovem adolescente, são aqueles de 15 a 17 anos; 2) jovens jovens, de 18 a 24 anos; e por fim 3) jovens adultos, de 25 a 29 anos. Diferente da noção de criança e adolescente instituída pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em que é analisado o desenvolvimento psicológico dos indivíduos, a noção sobre juventude se relaciona também com aspectos sociais e econômicos, ou com a ideia de que são responsáveis e possuem certo nível de independência, ou seja, estão passando pelo processo de amadurecimento e reconhecimento de si na sociedade, ou seja, estão encontrando seu lugar no mundo. 

Mas de que maneira as guerras, crises econômicas e climáticas e todo o senso de escassez e incertezas afetam a juventude?  

“Com o avanço da pandemia, a situação se tornou ainda mais grave, ampliando os índices de jovens sem oportunidades de trabalho e também da evasão escolar, com uma parcela significativa da população sofrendo impactos em seu processo educacional. Todo este contexto tem forte influência no desenvolvimento da população jovem. Caso este cenário não seja revertido, o Brasil vive o risco de ter uma geração perdida e pode desperdiçar a oportunidade de alavancar o seu crescimento utilizando como força motriz a maior população de jovens da sua história” 

Abramo (2024) nos mostra que existe uma ausência de perspectiva de futuro para os jovens que é percebido pelos nem nem (nem estuda, nem trabalha). Basicamente, o que analisamos é um esgotamento da juventude que, se quer, consegue vislumbrar um futuro e sonhar com mudanças significativas e positivas em seu contexto social. 

Em contrapartida, existe uma parcela da juventude sendo capturada pelos conselhos de coachs e pela ideia de que o enriquecimento é fácil, que seguir com os estudos não é uma boa ideia, que o pensamento consegue transformar realidades e que as universidades não servem pra nada, afinal ninguém ganha dinheiro enquanto está estudando, mas gasta com mensalidade, materiais, alimentação, transporte etc. 

Ou seja, temos grupos opostos e que não dialogam. Assim como as políticas públicas pensadas para a juventude porque elas não conseguem compreender as mazelas, dúvidas e incertezas que os assolam. Pelo contrário, existe uma tentativa resolver os prováveis problemas do futuro com ideias do passado e do presente. 

E, de que maneira esse abismo geracional se apresenta? 

Infelizmente, a dificuldade de diálogo entre as gerações é muito comum porque existe um apego ao passado, a ideia de que a vida precisa continuar como sempre foi. Então quando as ideias e o modo de fazer se transformam ou se adaptam à novas necessidades há uma descrença. 

Desta maneira, a juventude consegue se colocar em diferentes lugares, mas não necessariamente é respeitada e têm suas opiniões validadas em todos eles, a ausência ou a pouca experiência prática em certas situações é utilizada como justificativa para deslegitimar as percepções e ideias dos jovens, porque a experiência o know-how pra algumas pessoas é mais importante e legítimo do que o conhecimento teórico ou científico. 

Por isso é tão comum, em alguns momentos ouvirmos que a juventude está perdida, que os jovens não trabalham como antes, que não se importam com nada ou o famoso “na minha época era diferente”, mas é importante ter em mente que as demandas atuais também são diferentes. 

Desejar que os comportamentos se repitam seria um grande erro! 

O excesso de telas, todas as crises (ambiental, climática e econômica) e todas as revoluções tecnológicas são exemplos de situações que se transformaram em problemas gravíssimos e afetam toda a população, em todas as idades. Essas mudanças evidenciam que as vivências, necessidades e problemas de hoje não são os mesmos do passado e tentar resolver os problemas dos futuros com soluções do passado não faz sentido, em especial para crianças e jovens que serão mais afetadas. 

A ausência da juventude na elaboração de projetos e políticas públicas escancaram a gravidade da situação. 

Temos como exemplo a Reforma no Ensino Médio, uma proposta muito interessante porque tenta aproximar a escola e seus conhecimentos das vivências e realidades da juventude. Entretanto, as disciplinas eletivas não geram interesse na juventude, os profissionais da educação não receberam o preparo pras disciplinas que são ministradas, a carga horária não se adequa a realidade de jovens da escola pública, existe uma diminuição da carga horária das disciplinas ‘normais’ e em cidades pequenas com uma ou duas escolas de ensino médio não há poder de escolha. 

Sendo assim, o abismo com a juventude aumentou. 

Por fim, é importante pensar a juventude e os futuros com um olhar ampliado. É essencial que tenhamos em mente que os futuros serão habitados mais pela juventude que por nós, portanto eles precisam, pelo menos, idealizar as múltiplas possibilidades que os aguardam e ser parte atuante nos processos. 

Referências: ABRAMO, Helena. Políticas Públicas de Juventude: reconstrução em pauta. Mapas e caminhos de políticas públicas de juventude: qual é a bússola de reconstrução? Ação Educativa, São Paulo, 2024 
Foto de Capa: Pixabay.

A Geração Beta vem aí: como criar lugares à prova de futuro para eles?

Geração Beta usando óculos de Realidade Aumentada em ambiente urbano futurista, ilustrando a fusão entre mundo físico e digital nas cidades do futuro

A partir de 2025, testemunharemos a emergência de uma nova geração que desafiará tudo o que entendemos sobre comportamento urbano, identidade e pertencimento: a Geração Beta. Nascidos entre 2025 e 2039, estes indivíduos constituirão 16% da população global até 2035 e não apenas serão os responsáveis por conduzir o mundo para o próximo século, mas também os primeiros a viver em um mundo onde a distinção entre físico e digital simplesmente não existirá.

Imagine um cotidiano em que:

· A inteligência artificial e a realidade aumentada são tão naturais quanto uma ligação telefônica.

· Viver simultaneamente nos mundos físico e digital é a norma, não a exceção.

· As interações sociais fluem naturalmente entre espaços tangíveis e virtuais sem nenhuma sensação de ruptura.

Diante deste cenário, uma pergunta crucial se impõe: que tipos de lugares precisamos construir para acolher essas novas formas de interação e pertencimento de uma geração que habitará simultaneamente o físico e o digital?

Do analógico ao digital: rumo à Geração Beta

Como um millennial nascido nos anos 80, minha experiência de vida sempre abrangeu duas realidades complementares, porém distintas. A infância foi 100% analógica: para conversar com amigos, era preciso combinar um encontro com alguma antecedência ou tentar a sorte de ir, meio de surpresa, à casa de alguém e tocar a campainha. Já enquanto adolescente, testemunhei e fiz parte da revolução das comunicações e das redes sociais: através de Orkut, MSN e até mesmo mensagens SMS, era possível socializar por horas sem sair de casa ou marcar encontros presenciais com maior assertividade e precisão de tempo.

A revolução da internet foi determinante para a minha geração, mas a linha entre o físico e o virtual sempre foi clara. Agora, para a Geração Beta, essa distinção será obsoleta. Navegar entre realidades será tão instintivo quanto um pássaro alterna o voar e o pousar.

Esta mudança não diminui a importância do espaço físico. Pelo contrário, adiciona novas camadas à nossa compreensão de identidade e comunidade. A questão é: como preparar nossos ambientes urbanos para essa nova realidade?

4 Cenários para Cidades da Geração Beta

É uma pergunta impossível de responder de maneira prescritiva, porque como dizemos por aqui, pensar no futuro singular é pensar no passado. No entanto, podemos explorar alguns cenários bastante iminentes, com base em tudo que sabemos por enquanto. Longe de ser uma lista definitiva, aqui estão algumas possibilidades principais:

1. Flexibilidade como Norma

Esqueça a hegemonia da funcionalidade do espaço. Em vez disso, os lugares serão definidos por sua capacidade adaptativa, ou seja, pela habilidade de se reinventar continuamente, conforme as demandas das comunidades que os habitam. Parece algo muito disruptivo agora, mas para os Betas, esse será o mínimo esperado de um espaço verdadeiramente útil e relevante: menos funções pré-determinadas e mais possibilidades de uso e exploração.

2. Cotidiano Aumentado

Se a premissa de comportamento da Geração Beta é transitar fluidamente entre os mundos físico e digital, precisamos assumir de partida que as experiências em realidade aumentada estarão muito além de smart glasses individuais e totens interativos em espaços públicos: as cidades deverão responder em tempo real às necessidades, emoções e interações de seus moradores e visitantes. A questão não é se viveremos em um mundo aumentado, mas como utilizaremos esta tecnologia para criar espaços tão responsivos quanto as possibilidades digitais que os envolverão.

3. Pertencimento Desterritorializado

Os Betas serão a primeira geração para quem o senso de pertencimento não poderá ser medido apenas pelo limite territorial do bairro e da cidade. O melhor amigo poderá estar a um oceano de distância física e, no entanto, ser tão parte do dia a dia quanto um colega de turma da escola presencial (se é que ela ainda vai existir nos moldes como a conhecemos hoje…). Essa mudança de paradigma incide em, desde já, pensar nos lugares menos como pontos num mapa e mais como destinos de comunidades intencionais.

4. Sustentabilidade Integrada

Quando os Betas chegarem à fase adulta, uma das pautas globais em alta será a comemoração do centenário da Conferência de Estocolmo (1972), considerada o primeiro grande fórum de discussão ambiental da história. Até lá, a sustentabilidade não será mais um ideal em debate, mas a própria essência do modo de vida urbano. Para essa geração, a incorporação de tecnologias regenerativas nos ambientes construídos deverá ser tão óbvia quando a necessidade de um projeto hidráulico ou elétrico.

O segredo reside em ser adaptável aos futuros incertos

Mas, se todos esses cenários são incertos por definição, a própria ideia de preparar lugares para lidar com futuros diferentes não é paradoxal?

Não, porque como dissemos, o objetivo não é prever ou prescrever cada detalhe do futuro (aliás, o nome disso é futurologia, e definitivamente essa não é a especialidade da casa!!!), mas trabalhar a capacidade de adaptação e antecipação do lugar frente às incertezas.

Mais do que a promessa de uma mudança demográfica e comportamental, a chegada da Geração Beta é uma oportunidade e um convite para reavaliarmos como estamos projetando e interagindo com os lugares que habitamos. Quanto mais cedo um bairro, cidade ou região entender sua posição neste processo e agir, mais preparado estará para lidar com as muitas incertezas e crises que aparecerão pelo caminho.

Foto de Capa: Pixabay.