Parabéns pelos likes. Agora vamos falar sobre a Identidade Digital do seu lugar.

EMANNUEL COSTA  09.25

Você abre o relatório e os indicadores parecem animar: o aumento de 15% nos likes, share of voice superior ao do concorrente, sentimento positivo da campanha… A realidade, no entanto, é mais seletiva e continua passando uma estranha sensação de que o seu destino ainda não foi comprado do jeito que você gostaria.

Mesmo assim, você tem os números na mão. Você acha que sabe. Mas você tem certeza do que as pessoas realmente pensam sobre sua cidade ou seu novo empreendimento?

A resposta a essa pergunta costuma ser embasada por um mosaico de dados, incluindo insights de pesquisas de mercado enlatadas, relatórios de clipping onde todo mundo é primeiro lugar em alguma coisa e métricas de engajamento que, cá entre nós, servem mais para afagar nossa vaidade do que para criar ações e campanhas efetivas.

Antes de me levarem a mal, quero deixar bem claro: Dados SEMPRE são úteis e bem-vindos — como Head de Pesquisa e Tendências, jamais diria o contrário. No entanto, pergunte-se:

  • Os dados que eu tenho hoje capturam a intenção por trás do que as pessoas buscam?
  • Os dados que eu tenho hoje permitem entender qual é a cultura e a reputação do meu lugar?
  • Os dados que eu tenho hoje revelam como a IA interpreta e apresenta meu lugar para o mundo?

Se você respondeu não para pelo menos uma dessas três perguntas, eu tenho uma notícia para te dar: toda a sua estratégia de posicionamento está operando no escuro.

Não se trata mais de ter uma “presença online”. Trata-se de compreender e gerenciar o diagnóstico profundo da percepção real do seu lugar, seja ele um destino turístico, um ecossistema de inovação, um aeroporto regional ou a redefinição do conceito de empreendimento imobiliário de alto padrão.

Desejo + Experiência = Reputação

A fórmula para medir a identidade digital de um lugar é relativamente simples; encontrar as variáveis corretas, nem tanto. É exatamente neste “pequeno” erro de cálculo que reside a diferença entre a imagem que você projeta e o que as pessoas percebem. A boa notícia é que você precisa entender apenas três coisas:

  1. [h3] A Intenção Oculta: Esta é a camada do desejo. O que as pessoas buscam saber ativamente sobre o lugar revela suas verdadeiras necessidades, medos e aspirações. Elas não buscam apenas “hotéis mais baratos”; elas buscam “lugares seguros para viajar com a família” ou “bairros seguros para nômades digitais”. Compreender essa camada é entender o pulso do mercado antes mesmo que ele se declare.
  2. [h3] A Narrativa Espontânea: Esta é a camada da experiência. É o que é dito em avaliações, comentários e conversas em plataformas digitais, fóruns e redes sociais. São as histórias, os símbolos e os sentimentos que o público cria e associa a um lugar.
  3. [h3] A Síntese da IA: Esta é a nova fronteira da reputação. Quando alguém pergunta ao ChatGPT “quais os melhores destinos de ecoturismo?” ou “onde investir em imóveis com potencial de valorização?”, a resposta que ele dá agora é tomada como verdade universal. Ser mal interpretado pela IA é correr o risco de se tornar invisível ou, pior ainda, ser definido por uma narrativa imprecisa, falsa ou que não reflete àquela que você dedicou tanto tempo, esforço e dinheiro.

O desalinhamento entre essas camadas tem consequências concretas: campanhas de marketing turístico que não geram fluxo, políticas de atração de investimentos que não convertem e empreendimentos imobiliários que não se sustentam após o boom de lançamento.

E o problema não é do marketeiro. Nem do arquiteto. E nem do estrategista. Falta resolver, antes, a equação da identidade digital daquele lugar.

Para não operar no escuro, aprendemos a acender três luzes bem específicas

Para navegar uma nova topografia da percepção online, é preciso obviamente um novo mapa. É por isso que desenvolvemos uma metodologia integrada, que decodifica a identidade digital de forma completa, revelando em camadas o que sempre esteve ali, mas era difícil de enxergar:

1. Search Listening: Decodificando intenção, demanda e oferta

Esqueça o mapeamento das palavras-chave da semana no Google Trends para surfar virais e memes que não serão mais lembrados daqui a 30 dias. Nosso Search Listening é uma análise profunda do ecossistema de perguntas e interesses que orbitam um lugar.

Mapeamos não só o que se busca, mas as intenções por trás dessas buscas e que tipo de conteúdo o Google retorna para o usuário. O objetivo é entender o que o público realmente quer de um destino antes de visitá-lo, ou de um bairro antes de investir nele, e se desejo e intenção estão alinhados ao conteúdo que ele encontra.

2. Social Listening: Mapeando as narrativas sobre a experiência

O “boca-a-boca” digital acontece em conversas no Instagram e avaliações no TripAdvisor (dentre outras redes e plataformas, claro), e entender se isso é positivo ou negativo é apenas o ponto de partida, não o de chegada.

Com o Social Listening, identificamos e validamos as micro-histórias, relatos pessoais e comportamentos que constroem ou reafirmam a fama de lugar bom ou lugar ruim, lugar caro ou lugar barato, lugar seguro ou lugar perigoso.

Enquanto a maioria do mercado mede satisfação, nós analisamos cultura. Em vez de procurar por detratores, nós encontramos os verdadeiros protagonistas da experiência, que raramente aparecem numa planilha de NPS.

3. Place Promptability Index® (PPI): o nosso auditor de inteligência artificial

E então veio a IA, essa grande fofoqueira digital. A entidade que agora decide sobre reputações com a mesma velocidade que sugere uma receita de bolo. Se antes a grande preocupação era “o que falam de mim no Reclame Aqui?”, a nova dúvida agora é “O que o ChatGPT pensa que eu sou?”.

Foi para auditar esse novo oráculo da consciência coletiva que criamos o PPI — uma rigorosa metodologia de análise a partir de prompts que medem como a IA interpreta e responde sobre a reputação e a identidade de um lugar.

Até o momento em que este texto foi escrito (setembro de 2025), 60% de buscas no Google com resumo de IA já terminam sem cliques — o que representa uma queda estimada de 25% no tráfego orgânico, enquanto o setor de turismo e hospitalidade representa 18% da jornada de compra no ChatGPT.

Em outras palavras: as métricas digitais convencionais continuam sendo essenciais, mas não são mais suficientes para entender o comportamento e a tomada de decisão na era da IA.

Nosso índice não garante que o ChatGPT conte a história que você está tentando construir, mas revela como o seu lugar é avaliado com base no que as pessoas desejam e falam sobre ele.

Estratégia com base em percepção real

O verdadeiro poder da nossa metodologia reside na intersecção desses três pilares. É na sobreposição dos mapas de intenção, narrativa e síntese da IA que identificamos os maiores riscos e as grandes oportunidades, que provavelmente estão sendo subestimados ou mal explorados ou pela sua estratégia atual.

Para um destino turístico, isso pode significar descobrir, por exemplo, que a experiência positiva do visitante não está atrelada ao ativo principal do lugar (ex.: praia, cachoeira, frio, gastronomia etc.), mas à hospitalidade local (ex.: atendimento, receptividade de moradores etc.), permitindo o desenvolvimento de estratégias que transformem esse diferencial autêntico e humano em vantagem competitiva.

Para um empreendimento imobiliário, isso pode revelar que o fator decisivo de compra não está na quadra de beach tennis ou na garagem para lanchas, mas na percepção de segurança existente no entorno da área do projeto, permitindo a construção de um diálogo com a comunidade vizinha através de espaços de convívio permeáveis que convertam um ponto de atrito em um ativo de valorização.

Seja qual for a sua necessidade, nosso diagnóstico de Identidade Digital é a primeira tradução da razão pela qual nós existimos: criar lugares antifrágeis e à prova de futuros. Antifrágeis porque eles não apenas resistem a crises de imagem, mas se fortalecem com o feedback real do público — pois são construídos sobre uma base de percepção autêntica e transparente — e à prova de futuros porque não se trata de ter uma resposta universal para todas as certezas, mas de usar a inteligência de dados para entender os sinais e se adaptar à mudança antes que ela aconteça.

Parece clichê, mas é verdade: as estratégias mais poderosas não são as que falam mais alto, mas as que ouvem melhor. No caso de um lugar, “ouvir” exige uma metodologia capaz de decodificar intenções, narrativas e entender como tudo isso se amarra na percepção que a inteligência artificial cria e vende para o mundo.

Tomar decisões de alto impacto com base em dados dispersos apenas arranha a superfície da percepção. Em vez disso, a pergunta precisa ser: estamos construindo nossa identidade com base no que achamos que somos, ou no que o mundo já percebe que somos?